O ensino híbrido ou blended learning é uma modalidade de ensino que combina atividades presenciais e atividades online. Esses diferentes momentos, se alinhados, aumentam as chances do aluno aprender, já que ele poderá participar de diferentes atividades, em diferentes lugares e momentos, além de aprender no seu próprio ritmo e, de acordo com a sua disponibilidade. 

Diversificar a forma de trabalhar os conteúdos poderá favorecer o processo de ensino-aprendizagem, já que não exige do aluno uma única forma de aprender e compreender esses conteúdos, além de permitir que você use diferentes recursos e estratégias para ensinar. Assim, o conteúdo poderá ser compartilhado em diferentes formatos por meio de interações síncronas e assíncronas. Isso favorece, também, os diferentes perfis de aprendizagem: alguns alunos preferem assistir a vídeos, alguns ler textos, ouvir podcasts, alguns preferem atividades mais desafiadoras, outros mais tradicionais, alguns precisam de instruções bem específicas, outros gostam de trabalhar de modo mais aberto, imprevisível (investigação, pesquisas). 

A sala de aula invertida é uma metodologia de ensino híbrido. O nome “invertida” faz referência a mudança na ordem tradicional de apresentação dos conteúdos. O que isso significa?

Se você vai ministrar uma aula, pensando em um modelo tradicional, você prepara o material e o conteúdo que – independentemente do formato que você escolheu – serão apresentado aos alunos no dia dessa aula.

Assim, em muitos casos, os alunos nunca tiveram contato com o conteúdo e o farão no primeiro momento da aula (uma avaliação diagnóstica poderá ajudar nisso). Isso faz com que o professor gaste um tempo com essa apresentação conceitual do tema (por exemplo, em uma aula sobre transgênicos, o que significa esse termo, qual a diferença entre Organismos Geneticamente Modificados – OGM) e não em atividades como debates, resolução de problemas, apresentação/avaliação de cases, simulações (role playing), pesquisas, acompanhamento individual dos alunos para tirar dúvidas ou propor questionamentos mais específicos. O tempo investido em atividades mais práticas e problematizadoras  fica reduzido. 

A sala de aula invertida prevê o acesso ao conteúdo pelos aprendizes antes do momento presencial ou síncrono (durante a pandemia, o momento presencial poderá ser “trocado”, dependendo do contexto, pelo momento síncrono). Esse acesso acontece pelo que chamamos de atividade prévia. Essa atividade tem como objetivo apresentar determinado conteúdo para o aluno para que ele tenha um primeiro contato antes do momento presencial – daí o nome “sala de aula invertida”. 

Isso permite que os primeiros momentos do encontro presencial sejam usados para esclarecimento de dúvidas, para realização de um brainstorming ou de uma avaliação diagnóstica, para uma retomada da parte conceitual. 

Quer saber mais sobre essa metodologia? Respondemos algumas perguntas que poderão ajudar muito! 

Que tipo de atividade prévia posso selecionar? 

Essa é uma questão-chave na metodologia. O material selecionado como atividade prévia poderá ser criado por você ou você poderá usar um material que já exista após fazer uma curadoria sobre o tema. 

Esse material poderá estar em diferentes formatos: pode ser um vídeo mais longo, pode ser um microlearning, um infográfico, um artigo científico, um texto de uma revista, um exemplo aplicado do conceito, um podcast, um problema ou estudo de caso para ser investigado, por exemplo. 

Você pode, ainda, combinar diferentes tipos e formatos de material para oferecer ao seu aluno diferentes opções. Assim, eles poderão escolher de que forma irão aprender – dependendo do seu interesse, tempo disponível, facilidade com a disciplina ou perfil, por exemplo. 

O que eu devo considerar na escolha da atividade prévia?

Criação: Ao elaborar um texto ou um vídeo, é importante usar uma linguagem acessível e compatível com o público-alvo, fazer perguntas, “dialogar” com o seu aluno, colocar pontos para reflexão ou pesquisa, pensar em problematizações que poderiam ocorrer se você estivesse em uma aula presencial. Você pode terminar esse vídeo ou texto lançando um desafio ou um problema que será resolvido no momento presencial da aula. Use narrativas, chamadas para ação, exemplos, convide o seu aluno a conhecer o conteúdo.

Curadoria: É importante você não usar um material apenas porque ele foi indicado por um colega professor. Você deve assistir ao vídeo ou fazer a leitura do texto para identificar se ele é adequado. Considere a extensão, a linguagem, o formato e a complexidade (sempre pensando nos alunos que participarão da aula). É importante indicar orientações aos alunos: Há uma parte do texto ou do vídeo mais importante? Há questões para serem pensadas antes ou depois da leitura ou de assistir ao vídeo? Indique ações para facilitar a interação com o material quando você não está presente. 

O que é importante no planejamento dessa metodologia?

Os alunos precisam saber como funciona a metodologia. Assim, explique como os momentos acontecerão e os benefícios que a metodologia poderá trazer para aprendizagem. 

Além disso, os dois momentos – o online e o presencial (ou síncrono) – precisam ser planejados de modo articulado, sincronizado. Eles não podem ser independentes. A escolha da atividade prévia está relacionada ao tipo de atividade que você fará no momento presencial. A ideia é retomar brevemente o conteúdo disponibilizado pelo recurso e, depois, usá-lo para o trabalho com uma metodologia ativa.

Isso também é fundamental para motivar os alunos a interagirem com a atividade prévia. Explique porque ela é importante e como será útil no momento posterior. Anuncie um debate, um desafio, uma atividade em grupo, por exemplo. 

Onde/como esse material prévio será disponibilizado?

Se a sua escola tiver uma plataforma de aprendizagem, o trabalho poderá ser desenvolvido com muita efetividade. O material poderá ser disponibilizado nessa plataforma de acordo com as funcionalidades que ela oferece. A plataforma da Scaffold Education possibilita que vários formatos de material sejam disponibilizados: a criação de quiz, o envio de mensagens caso o aluno tenha alguma dúvida, a participação em fóruns, blogs e a geração de certificados. Além disso, o percurso do aluno na plataforma pode ser gamificado! Usar tudo isso pode aumentar as interações e o engajamento  entre os alunos. 

Se a escola não tem uma plataforma, o material poderá ser disponibilizado em um grupo de e-mail ou Whatsapp. Não se esqueça das orientações!

Sugestão de roteiro para elaboração de uma aula no modelo de sala de aula invertida: 

  1. Escolha um conteúdo da sua disciplina que você gostaria de abordar usando a sala de aula invertida.  
  1. Depois de fazer essa escolha, você pode gravar um vídeo pelo seu celular  (no formato de microlearning- no máximo, 8 minutos) contando para os seus alunos o tema da aula. Faça isso de uma maneira mais informal, fale da importância desse conteúdo para a compreensão de algo maior, diga como o conteúdo poderá ser identificado ou aplicado no dia a dia do aluno, qual a relação dele com outros conteúdos, porque é importante aprendê-lo. Procure usar elementos de um storytelling: chame a atenção, desperte o interesse  e convide o aluno para uma ação: pesquisar, resolver um desafio, compartilhar um material.  
  1. Agora faça o seguinte: acesse o YouTube ou outro canal, faça uma pesquisa e procure um vídeo explicando esse mesmo conteúdo. Isso é o que chamamos de curadoria. Ou seja, você pesquisará e avaliará a possibilidade de indicar aos seus alunos algum material que já está pronto e disponível em formato de vídeo na web. 
  1. Encontre ou elabore esse conteúdo em outro formato. Você pode pesquisar sobre curiosidades (cases), fatos interessantes, passagens divertidas, charges, textos e histórias “mais leves” e atrativas. 
  2. Oriente o seu aluno sobre a importância de verificar/acessar o material disponibilizado antes do momento presencial (ou síncrono) estabelecido. Não se esqueça de elencar ações referentes à interação do aluno com o material (comandos). O que ele deve fazer? Aponte instruções claras e específicas acerca do seu percurso de aprendizagem.
  3. Faça o planejamento da sincronização entre o momento de estudo prévio e o momento presencial (o que será feito na aula presencial a partir do estudo prévio?- os dois momentos devem estar conectados). É importante que essa articulação entre os dois momentos fique clara para o seu aluno.
  4. Use o encontro presencial para problematizar, explorar o conteúdo mais profundamente, tirar dúvidas, simular, propor debates, atividades em grupo e não apenas explanar conceitos. Se a aula for sobre transgênicos, crie casos reais como, por exemplo, o posicionamento de uma empresa e do greenpeace sobre esse tipo de produção, mostre diferentes possibilidades, incentive-os a construir seus argumentos com fundamentações coerentes. 

Após esse momento, proponha um problema ou um debate de modo que os alunos precisem construir e mobilizar argumentos para defender a sua posição.

Cuidados/sugestões: 

  • Selecione de forma criteriosa o material prévio (evitar vídeos extensos, textos de cumpridos e de linguagem densa).
  • Deixe claro ao seu aluno a sincronia entre os dois momentos: Para que servirá o material prévio? O que ocorrerá em momento presencial posterior?
  • Otimize o seu tempo com os alunos para conversas e atividades mais complexas, participativas, dialogadas, em grupo.

Bibliografia Consultada:

MORAN, J. Metodologias ativas de bolso: como alunos podem aprender de forma ativa, simplificada e profunda.São Paulo: Editora do Brasil, 2019. 

BERGMANN, J.; SAMS, A. Sala de aula invertida: Uma metodologia Ativa de Aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC, 2017. SARMENTO, M. (coord). O Futuro alcançou a escola?: o aluno digital, a BNCC e o uso de metodologias ativas de aprendizagem. São Paulo: Editora do Brasil, 2019.

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